Uma das premissas mais importantes que direcionou os objetivos de O Contrato desde o início foi de não tirar, em hipótese alguma, a criança de seu ambiente familiar, exceto no caso de violência doméstica e abusos. Tão importante que a idealizadora Lucia Fernandes Stall , a cada ano que passa consolida a certeza que foi importante fortalecer e manter seus cinco afilhados crescendo e se desenvolvendo no seu próprio meio social, mesmo com muitas dificuldades apresentadas ao longo dos anos.
“Os laços familiares são eternos” e quando mantidos são parte essencial na vida das pessoas.
Marcos Aurélio de Lima perdeu sua avó tão querida em julho de 2021. A pessoa que lhe criou e o viu crescer, ao mesmo tempo que Lucia o orientava e mostrava o caminho a seguir fora da rua.
O coração de Marcos ficou desamparado quando sua avó faleceu e o recado que deixou para Lucia agradecendo as condolências foi emocionante e nos faz entender o papel importante da família, mesmo que esta família não corresponda aos padrões normais pela dificuldade, pela pobreza e desigualdade social.
A mensagem é um alerta: não podemos julgar situações adversas aos nossos padrões e precisamos respeitar a afetuosidade de cada ser humano. Um recado que nos faz refletir muito e cada vez mais ter a certeza que O Contrato está cumprindo aos objetivos propostos no projeto. Eis o recado:
“Ela é minha mãe, pelo menos fez papel de mãe e de pai, me colocou na rua para pedir, mas me deu uma criação Boa. Hoje sou esse homem muito por conta dela e através disso tudo, pude conhecer a senhora que também foi uma mãe para nós todos. A senhora não nos ajudou só com dinheiro, alimentos e coisas matérias , mas Sim, com todas as conversas que tivemos com a senhora, com todos os conselhos que a senhora nos deu. Sempre vou dizer que a senhora foi um anjo que Deus colocou em nossas vidas. Com isso pudemos também crescer e nos tornamos pessoas, melhores pessoas do bem”.
Para o bom desenvolvimento de uma ação de mudança social é fundamental analisar o contexto no qual está inserida a criança na família. Qual é o grau de afetividade existente entre essa criança e seus pais ou responsáveis? O por quê da situação de abandono na rua?
Em casos como o dos afilhados de Lucia foi feita essa avaliação. Foi observado que os meninos tinham ligações afetivas com seus familiares e que era possível conseguir a recuperação e a partir daí a transformação social para as futuras gerações deles.
Marcos levou a avó para sua casa e tratou dela até os seus últimos momentos, mesmo reconhecendo o fato de ela o ter colocado na rua para pedir. Para ele, uma atitude perdoável porque mesmo assim ela o criou como um homem bom. No seu raciocínio, se não estivesse na rua não teria conhecido Lucia – seu anjo da guarda.